segunda-feira, 17 de março de 2008

Dor

O sol batia forte nos meus cabelos castanhos,
O calor abrasador que se fazia sentir

Era desconfortante.
Continuava a caminhar
Por entre as árvores mortas
E os arbustos sem flor
Sobre o alcatrão escaldante.
Sentia a garganta seca
Mas do meu coração,
Escorria sangue.
Necessitava de água,
E dele.
Ele estava com um cântaro nas mãos,
Os seus olhos brilhavam como estrelas,
O seu cabelo preto não voava.
O vento não se sentia.
O meu coração secou,
Os meus olhos abriram-se mais,
O meu ânimo ficou leve
E o meu ser encheu-se de esperança.
Desta vez não era o vento
Eu tinha a certeza disso.
Comecei a correr desesperadamente,
Ele recuou, novamente.
Os seus olhos mostravam preocupação.
A minha sede aumentou.
Não sabia se estava a correr por ele ou pela água,
Mas não conseguia raciocinar.
Queria ambas
Qual delas a com mais intensidade.
Corri ainda mais depressa.
Quando me atirei para os seus braços ocupados,
Cai.
Virei-me e vi-o parado,
Observando-me.
Os seus olhos encontraram os meus,
E um arrepio percorreu o meu corpo
De uma forma tão intensa,
Como eu nunca tinha sentido,
Nem quando nos cruzámos pela primeira vez.
Ele começou a subir pelo céu
A caminho do Sol,
Mesmo antes de eu ter consciência do que se passava.
Estava a desaparecer pela terceira vez,
E eu não o podia impedir.
Estendi-me no chão e reflecti.
Aquele curto momento tinha sido estranho.
Ele era cada vez mais uma miragem.
O meu coração apertou-se,
Chorou.
Chorei com lágrimas secas
Que percorriam a minha face.
O Sol chorou
Dando lugar às nuvens.
Às mesmas que mo levaram da primeira vez.
Eram negras
Como o meu espírito naquele momento.
Elas riam-se maleficamente
Deixando escapar chuva e relâmpagos assustadores.
As árvores ganharam formas fantasmagóricas,
Os arbustos pareciam monstros prontos a atacar.
Tinha de me abrigar.
Avistei uma gruta ao longe,
E encaminhei-me para lá.
Entrei.
Relampejou.
No chão da gruta
Estava um vidro partido e um peluche.
Pensei sobre o que é que poderia fazer com ambos
E descobri que com o vidro eu podia cortar-me
De modo a aliviar a dor psicológica que sentia.
Peguei nele,
Fechei os olhos
E juntei-o ao meu pulso.
Cravei-o e arrastei-o.
Gritei.
Senti-me leve,
Aliviada.
Cravei-o no outro pulso
E fiz o mesmo.
Gritei novamente.
Já era demais.
A dor psicológica continuava a ser mais forte que a dor física.
O sangue que escorre do meu coração
Era agora libertado pelos meus pulsos abertos.
Agarrei o peluche
Com os pulsos a sangrar.
Envolvi-o nos meus braços,
Sujando-o.
O seu pêlo era macio,
Bastante reconfortante.
Não podia ficar ali muito mais tempo,
Eu queria encontrá-lo,
Queria estar nos seus braços.
Olhei para o meu dedo
E vi.
Vi a aliança que ele me deixara da primeira vez
E revivi tudo novamente.
Quando a tempestade parar
Eu continuarei o meu caminho.
Sei que a cada quilómetro que percorro
Fico mais próxima dele
E sinto que falta pouco,
Muito pouco para isso.
Depois das nuvens pararem de me gozar,
Eu vou,
Até ele.

Eunice Vistas
2008.03.15

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