domingo, 2 de março de 2008

Negrume

Caminhava sozinha,
Sem rumo através de uma estrada desconhecida,
Rodeada por arvoredos assombrados e maléficos,
Levava comigo um pensamento irreal.
Um sonho nunca realizado.
O vestido preto tapava-me os joelhos,
O corpete apertava-me furiosamente o peito, sufocando-me,
Tinha olhos tristes e sombrios, rodeados de preto.

A Nordeste estava um rapaz,
Caminhando no sentido contrário ao meu.
Olhei bem e vi uns olhos verdes penetrantes,
E um cabelo preto, rebelde, que voava consoante a direcção do vento.
Parou e observou-me fixamente.
Detectei um belo sorriso a formar-se no seu rosto,
Mas continuei a andar, ignorando-o.
O seu sorriso desvaneceu-se no crepúsculo que se formava.

Mais à frente, a Noroeste,
Estava um outro rapaz,
Parado, com as mãos dentro dos bolsos.
Observei-o, e os seus olhos azuis brilhavam.
O seu cabelo castanho voava em diversas direcções.
Começou a andar lentamente na minha direcção,
Um sorriso começava a formar-se na sua fronte.
Aumentou a velocidade do passo.

Senti-me voar em direcção ao crepúsculo
Agora formado.
Os meus pés já não tocavam o alcatrão negro.
Olhei para baixo e vi o que se passava:
Uma formosa rapariga vestida de branco,
Com longos cabelos loiros e olhos castanhos chocolate
Corria na direcção do rapaz
E ele na dela.

Não sentia o coração,
Apenas o vento que passava através de mim,
Não sei bem como, e compreendi o óbvio.
Percebi o que o outro rapaz sentiu
Ao ser ignorado por mim.
Fui sugada e entrei dentro do meu corpo.
Viu-os abraçados, com os lábios unidos.
Recuei.

Ele tinha o olhar baixo,
Detectei um brilho no canto dos seus olhos.
O vento já não soprava os seus cabelos pretos.
Aproximei-me e coloquei a mão sob o seu rosto.
Ele levantou o olhar e viu-me.
Sorriu energicamente face ao meu toque e à minha presença.
Abraçou-me e senti o forte bater do seu coração.
Voamos juntos até frente da Lua Nova,
Rodeados por um céu escuro e uma Lua brilhante.

Descemos à Terra
E os nossos olhares encontraram-se.
Mil palavras foram trocadas durante um silêncio inacabável.
Encostei o meu rosto ao seu peito
E senti o batimento do seu coração.
Estava um frio desconfortável ali,
Mas o calor que sentíamos naquele momento
Era maravilhosamente reconfortante.

Afastei-me dele para ver o seu rosto.
Ele olhava-me apaixonado,
Acariciando-me o rosto.
Pegou na minha mão e colocou-me uma aliança no dedo.
Fechei os olhos durante um curto momento.
Quando os abri, ele tinha desaparecido.
Olhei desorientada à volta sem nada ver,
Apenas a escuridão da minha estrada deserta.
Olhei para o dedo e a aliança brilhava onde ele a tinha deixado.

Não podia ter sonhado.
A aliança era a prova que ele existia.
Recomecei a caminhar,
Mais uma vez sem rumo.
O vento soprava de Sul, empurrando-me,
A Lua estava escondida atrás de uma nuvem culpada.
Sabia que ele me esperava nalgum lado,
Só tinha de o encontrar
E ficar nos seus braços para sempre,
Sem nunca mais fechar os olhos.



Eunice Vistas
2008.02.02

1 comentário:

Catita disse...

Companheiraa, adoreei este teu primeiro texto poetico, está magnifico ! sensivel e, bonito..
continua ! : D
amo-tee