terça-feira, 15 de abril de 2008

Fantasmagórico

Já estava quase lá.
Reconheço que aquele caminho não era dificil de percorrer
Quando o que queremos se pode encontrar lá.
Só tinha dois sentimentos:
Medo e ânsia.
Medo
Por aquele castelo estar rodeado de nuvens negras
A relampejarem fortemente
Fazendo com o que os relâmpagos reclamem a sua luz
No meio da escuridão.
Alguns caíram mesmo perto de mim,
Arrepiando-me.
Os trovões eram poderosos,
Tão poderosos que os meus tímpanos vibravam de dor.
A chuva fazia-se sentir intensamente
Fazendo de mim um trapo ensopado.
Ânsia
Porque ele podia estar lá,
Porque o poderia encontrar lá.
Mas que faria eu quando o visse?
Qual seria a minha reacção?
Estaria ele à minha espera?
Saberia que eu o ia procurar?
Porque é que ele desapareceu da primeira vez?
Estas perguntas fervilhavam dentro de mim
Como magma dentro de um vulcão
Prestes a entrar em erupção.
Quando dei por mim,
Estava de frente de um rio
Cujas águas estavam revoltas
E,
A atravessar por cima deste,
Estava uma ponte feita de madeira.
Passei cautelosamente por cima desta,
Agarrada ao meu peluche,
Receosa,
Pois alguma tábua podia estar solta.
Quando cheguei,
Novamente,
A terra firme,
Dei-me de caras com um portão enorme de ferro
Que estava aberto.
Entrei.
Havia um jardim que me levava até ao castelo.
Comecei a percorre-lo.
Era lindo.
Tinha arbustos com flor
E as árvores não tinham um aspecto monstruoso
Como outrora vira.
Nem a chuva nem os relâmpagos
Lhe tiravam o encanto
Senti-me um pouco aliviada.
Quando cheguei à porta do castelo
Pensei em pegar na grande aldraba e bater
Mas a porta também estava aberta.
Entrei silenciosamente,
Mais uma vez agarrada ao meu peluche,
Dentro daquilo que me parecia ser um castelo fantasma.
Estava escuro
E no chão só estava um castiçal com uma vela acesa
Que iluminava muito pouco em seu redor.
Peguei nele com a minha mão livre
E avancei pelo o hall de entrada.
Havia quadros nas paredes
De pessoas que eu não conhecia de lado nenhum.
Parei de frente a um
Que parecia a senhora idosa quando era mais nova,
A mesma que me ajudou,
Que me apoiou
Quando cheguei ao deserto.
Questionei-me se, de facto, era ela
Mas não tinha como ter a certeza,
Por isso continuei a avançar.
Conseguia ouvir gotas de água a molharem o chão,
Devido ao meu corpo encharcado.
Mais à frente,
Deparei-me com um lance de escadas
Com uma passadeira vermelha nos degraus.
Com a minha mão a agarrar o bracinho do peluche,
Coloquei-a sobre o corrimão
E comecei a subir.
Será que ele estava ali em cima?
Será que não?
Se não estiver, o que é que eu faço?

Oh meu Deus,
As perguntas voltaram a invadir-me
E eu não tinha respostas.
Quando cheguei ao último degrau
Estiquei o braço que segurava o castiçal
De modo a ver alguma coisa
Mas nada vi,
Por isso avancei.
Era um corredor estreito.
Havia portas abertas:
A primeira dava a uma casa de banho.
Numa mais à frente
Estava um dossel,
Noutra havia uma secretária,
Mais à frente,
Do lado esquerdo,
Havia outro quarto com várias camas,
E na última da direita,
Havia um piano.
Reparei que nesses quartos só havia isso,
Mais nada.
Achei estranho.
O corredor terminava com uma porta fechada
Mas nessa,
Vi uma réstia de luz por baixo.
Hesitei e peguei na maçaneta.
Rodei-a.
Havia um candeeiro grande no tecto,
Com as suas velas acesas.
Estava um gato preto deitado em cima do tapete
De várias cores.
Havia mais quadros
Mas desta vez com paisagens pintadas.
Havia uma lareira acesa
E uma mesa enorme no meio da sala,
Com iguarias de aspecto maravilhoso.
Só havia duas cadeiras,
Uma em cada extremo da mesa.
Ele estava sentado na do fundo,
Com os cotovelos apoiados sobre a mesa,
Com as mãos cruzadas
E o queixo apoiado sobre elas.
Os seus olhos verdes estavam sérios
E o seu cabelo preto estava despenteado.
Trazia vestido um smoking.
Achei mais estranho ainda.
Mas não queria pensar nisso naquele momento,
Mal podia acreditar que era mesmo ele.
Não era um sonho,
Nem uma miragem,
E muito menos o vento.
Era ele.
Não conseguia perceber o que sentia,
Não conseguia pensar,
Raciocinar,
Reflectir decentemente.
Dei um passo
E à minha esquerda estava a rapariga
De olhos azuis brilhantes
Que tinha esboçado aquele sorriso enorme quando me viu
No deserto.
Como teria ela chegado primeiro que eu?
Ele pousou as mãos em cima da mesa,
Mostrava agora uma ar angélico mas,
Contudo,
Continuava sério
E algo triste e duvidoso.
Reparei que,
No seu dedo,
Estava uma aliança igual à minha.
Levantou-se
E retirou-se por uma porta fechada ao pé da lareira.
A rapariga guiou-me por onde tinha vindo.
Conduziu-me até à casa de banho.
Ela abriu a torneira da banheira
E de seguida,
Pousei o meu peluche em cima do lavatório
Começando assim a despir-me
Pois compreendi o que ela queria.
Quando já me tinha despachado,
A rapariga ofereceu-me um roupão azul-bebé para eu vestir.
Que raio aconteceu às minhas roupas?
Levou-me até ao quarto com o dossel.
No chão,
Estava um par de sapatos de saltos
De cor preta.
Em cima do dossel,
Estava o gato
E um vestido verde azeitona,
Com mandas compridas
Deduzi que tivesse de o vestir,
Mas porquê?
Olhei para a rapariga,
Que tinha o meu peluche entre os seus braços,
Acenando-me com a cabeça,
Para eu o vestir.
Despi o roupão
E enfiei-me dentro do vestido
Que me assentava como uma luva,
Assim como os sapatos.
Estava pronta.
Mas, quem era ela?
O que faria eu a seguir?
Para onde quereria ela que eu fosse?
Para onde é que ele foi?

Eunice Vistas
2008.04.11

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