domingo, 2 de março de 2008

Maldição

Tinha de parar,
Já não sentia os meus pés doridos e a minha alma perdida.
Encostei-me a uma árvore negra,
Algures na berma da minha estrada
Ainda deserta.
Não queria acreditar que ele me tinha deixado,
Que ele se tinha ido embora sabe Deus para onde.
Castigo.
Oh, só podia ter sido castigo.
Eu tinha um rapaz cujo coração me pertencia,
Agora não.
Ele partiu e com ele levou o seu coração.
Quanto ao meu,
Sentia-o sim,
Mas fortemente apertado
Como se uma rosa coberta de espinhos e pétalas negras
Mo estivesse a ferir.
Sentia as paredes do meu coração quebrarem-se gradualmente
À medida que as lágrimas de sangue iam escorrendo ao longo da minha pele.
Eu era má.
Mas as pessoas más não o admitem.
Eu admito,
Porque reconhecia que o era.
Desprezei-o e fui orgulhosa,
Ignorei aquele que me amava.
Quis seguir em frente porque,
De certa forma,
Sabia que poderia encontrar melhor.
Agora,
Perdi tudo.
Fui ignorada por aquele a que eu chamava de “Perfeito”.
Fechei os olhos.
Sentia o odor da natureza.
A minha alma desejava o impossível.
O meu corpo desejava a terra.
Eu desejava-o a ele.
Comecei a ouvir uma respiração ofegante
Que não era a minha,
A interromper os meus pensamentos.
Ele, ele, ele, ele.
O rapaz dos olhos verdes
E cabelo preto estava ali.
Abri os olhos.
Vi aquela figura que estava guardada no mais fundo de mim.
O seu cheiro invadiu-me.
Ajoelhei-me e estiquei os braços para o abraçar
Para lhe pedir perdão,
Para lhe pedir que não partisse novamente.
Mas ele afastava-se.
O meu corpete impedia-me os movimentos,
A minha saia rasgou-se.
Pestanejei
E ele desapareceu.
Senti uma brisa fria contra o meu rosto coberto de lágrimas.
O Vento.
Tão bom que era senti-lo naquele momento mas,
Foi ele.
Ele iludiu-me.
Maldito seja.
Recostei-me contra a árvore novamente.
A Lua começava a desaparecer
Dando lugar ao Sol.
Este queria acordar,
Eu queria dormir, sonhar.
A Lua queria ficar,
Eu queria partir.
As árvores queriam gritar,
Eu queria o silêncio.
Todos necessitavam-se mutuamente,
Eu necessitava dele.
A claridade ia surgindo
E eu tornava-me cada vez mais
Uma mancha negra na minha estrada.

“Perfeito, perfeito,
Ele, perfeito, perfeito
Perfeito, ele, ele, ele.
Olhos verdes, perfeito
Cabelo preto, ele, ele.

Perfeito…
Ele.”


Eunice Vistas
2008.02.28

1 comentário:

Catita disse...

adoro aquela parte em que dizes que o sol queria acordar e tu dormir e isso *.* ehehs