sexta-feira, 20 de junho de 2008

Herói

Tu estás lá.
Tu estás na entrada.
Está escuro.
Não consegues ver nada
Para além das árvores
Que fazem de cerca,
De portão
Àquela floresta.
Ouves barulho
Mas não sabes o que é.
Pode ser de animais,
Pode ser a conversa das árvores.
Só sabes que é de lá.
Sentes o hálito fresco
Vindo do meio da escuridão.
Na tua fronte
Está desenhada uma ruga de medo.
Na tua mão
Está uma corda fria e áspera.
Tão grande que seria capaz de
Percorrer todas as ruas e ruelas
Deste mundo.
Seria capaz de o abraçar inúmeras vezes.
Atada à corda,
Está ela.
Ela entrou dentro da floresta
E tu estás a sentir os seus movimentos.
Sentes esticões
E puxões.
De repente
Paras-te de a sentir.
Esperas-te
E continuavas sem sentir nada.
Decidis-te,
Então,
Entrar na floresta.
A tua preocupação é mais forte que o teu medo.
Deste voltas
Através das árvores
E chegas-te mesmo a passar pelo mesmo sítio
Duas vezes,
Até que a encontras-te.
Ela estava sentada no chão
A choramingar.
Envolveste-a com os teus braços
E as suas lágrimas foram secas contra o teu peito.
Ajudaste-a a levantar-se
E viraste-lhe costas.
Ela chamou-te
E tu não hesitaste
Em virar-te para trás.
Viste-a desapertar a corda
E ouviste-a dizer
“Vou voltar contigo,
Não me deixes
Por favor.”
Pegaste-lhe na mão
E trouxeste-a contigo
Para fora daquela escuridão.
Salvaste-lhe a vida.

Eunice Vistas
2008.06.08

Dedico este texto ao Miguel Cruz,
Fonte da minha inspiração.
Musico e guitarrista que tenho o privilégio de conhecer.
Obrigada.

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