sexta-feira, 20 de junho de 2008

Train Of Death

“Todos a bordo,
Todos a bordo.
Última chamada para
Washington.”
A estação estava a
Transbordar de pessoas,
Umas ricas,
Outras sem um único tostão.
Enquanto uns comiam iguarias requintadas,
Outros comiam as migalhas
Que os meninos da nobreza
Deixavam cair acidentalmente
Das suas sandes
Cuidadosamente preparadas
Pela cozinheira fabulosa.
Naquele comboio,
Só entravam os ricos.
Viam-se as senhoras
Vestidas com vestidos aveludados
De diversas cores.
Uns de verde azeitona
Outros cor-de-rosa de rosa sujo.
Umas usavam chapéus simples
Outras usavam chapéus mais sofisticados.
Os senhores
Usavam smoking.
Casacos compridos,
Calças justas
E sapatos muito bem cuidados.
As crianças andavam
Consoante a vontade dos pais,
Quer quisessem,
Quer não.
Os pobres
Vestiam calças e camisolas velhas.
Vestes cujos ricos ignoraram
E mandaram para o lixo.
Naquele dia,
O comboio ia cheio.
Todas as cabines
Estavam ocupadas.
Os criados do comboio
Não tinham descanso.
Carregavam bandejas
Com inúmeras bebidas.
Umas saudáveis,
Para as senhoras,
E outras alcoólicas
Para os senhores.
As crianças andavam entusiasmadas
A correr de um lado
Para o outro do comboio
Através dos corredores
Deixando os criados
Com os nervos
Pelas pontas dos cabelos.
A viagem até Washington
Ainda era longa.
Iria demorar
Dois dias
E uma noite.
Já se conseguia
Ver o crepúsculo
No horizonte.
O sol queria descansar
Deixando que a Lua
O substitui-se.
As crianças encostavam-se às suas mães
Procurando conforto.
Agora o comboio estava escuro,
Silencioso,
Calmo…
Assustador.
Ela observava agora o comboio.
Já podia aparecer.
A sua cabeça
Era invadida por vozes
De mortais que não conhecia.
Começou a andar,
Silenciosamente.
Conforme a sua passagem
Pelas cabines,
Ela ia ficando acompanhada.
As almas dos ricos
Iam sendo roubadas
Aos corpos imundos
Dos ricos.
Eles eram as piores criaturas
Que jamais existira.
Os corpos mantiam-se quietos
E depressa começavam
A cheirar mal.
A superioridade
Relativamente ao povo
Apodrecia rapidamente.
Quando ela chegou
Até a porta que os separava
Do camionista,
Esta parou.
O camionista estremeceu
Com um arrepio frio
Apesar de estar calor la dentro.
Os criados agasalharam-se e enroscaram-se mais
Por entre os seus cobertores.
Eles partiram
Em direcção às nuvens
Até ao Inferno.
No dia seguinte,
Os criados gritaram de horror
Quando viram
Os corpos imóveis nos acentos.
O comboio parou na estação.
A viagem terminou.
Quem diria que esta seria
A última viagem deles.

Quem era ela?
Eu sei que sabem.

Eunice Vistas
2008.06.13

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